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quinta-feira, 30 de julho de 2015

RAIMUNDO GALDINO DA SILVA


Raimundo Galdino da Silva era irmão da minha avó Herculana Maria da Conceição 

Acervo do pesquisador do cangaço José Mendes Pereira

sábado, 16 de maio de 2015

UMA COMEMORAÇÃO ARCAICA - J. Mendes Pereira

J. Mendes Pereira

Amigo leitor, eu já fui inimigo de Lampião, mas hoje somos amigos. Não pelo que ele fez de maldades, mas pela coragem que ele tinha.

Veja o que escrevi quando eu era inimigo dele, mas lembrando que eu não sou poeta e nem tenho vocação para isto, apenas por intuição.

UMA COMEMORAÇÃO ARCAICA - 

Começou o banditismo 
Quase com o Virgulino 
No outro século passado 
Nesses sertões Nordestinos 
Um perverso que matava 
Homem, mulher e menino 
E quando fechava um 
Dizia: - Cumpro um destino.

José Ferreira da Silva 
Era o pai do Lampião 
Não gostava de encrencas 
E tinha um bom coração 
Mas o seu filho bandido 
Meteu-lhe em confusão 
Devido encrencas de terras 
Mora de baixo do chão.

Mas dizem que a sua mãe 
Era mulher meio brava 
De nada ela tinha medo 
Confusões sempre arranjava 
O pai desarmava os filhos 
Ela por trás os armava 
Mas ela nunca pensou 
Que bem perto a morte estava.

E com o incentivo da mãe 
Lampião entrou num bando 
De cangaceiros valentes 
Que só saía assaltando 
Do povo: joia e dinheiro 
Em outro caso açoitando 
Homem, mulher e menino 
E no percurso ia matando.

Um dia ele conheceu 
Uma doida no coiteiro 
Que deixou o seu marido 
Pra viver com o cangaceiro 
Tornou-se logo a Santinha 
Batizou-a o desordeiro 
‘Disse: ─ agora eu encontrei 
O meu amor verdadeiro.

Quem tem bom raciocínio 
Fica sempre imaginando 
Como é que uma mulher 
Resolve seguir um bando 
Cheio de homens valentes 
Que sai no mundo matando 
Sem dó e sem piedade 
E pelos sertões judiando.

No tempo desse bandido 
O povo não mais dormia 
Pois se espalhava na mata 
E por lá ninguém comia 
Com medo do desordeiro 
Que a qualquer hora podia 
Invadir as residências 
Com a força da covardia.

Fama de ser valentão 
Desde jovem ele tinha 
Gostava de confusão 
E jamais andou na linha 
Adorava assassinar 
Matava até criancinhas 
Mas seu lugar no inferno 
Com certeza o diabo tinha.

E por onde ele passava 
Começava a bagunçar 
Ninguém mais tinha sossego 
Forçava o povo dançar 
Homem com homem colados 
Era o seu prazer lançar 
Um novo divertimento 
Pra homem se balançar.

No campo ele amedrontava
Todos que moravam lá
Tomava tudo o que tinham
E se não quisessem dar
Mandava um dos cabras dele
Pegar o chefe do lar
E com o seu cinturão
O açoitava até matar.

Quem não quisesse apanhar 
Era só o obedecer 
Ficar calado num canto 
E dar o braço a torcer 
Pois o bandido gostava 
De ver sempre alguém morrer 
Metia o cinto no lombo 
Só pra ver o mel descer.

Durante as suas andanças 
Foi sanguinário cruel 
Arrancou olhos de gente 
De outro tirou o fel 
Fez outro beber o líquido 
Dizendo que era mel 
Se não bebesse o mandava 
Logo para o beleleu.

Se ele visse uma moça 
Com o vestido curtinho 
Ferrava-a com um ferro quente 
Marcando o lindo rostinho 
Dizendo: - tenha vergonha 
Tu ainda és brotinho 
Procura andar bem vestida 
Pra não mostrar o rabinho.

Uma vez capou um homem 
Ás duas da madrugada 
Dizendo: - Você está magro 
Precisa duma engordada 
E começou o trabalho 
Com uma faca afiada 
Depois do serviço pronto 
Deu-lhe boas bordoadas.

Lampião era perverso 
No sertão matou, roubou 
Fez gente correr com medo 
Nas cidades ele estuprou 
E quem não lhe obedeceu 
Com certeza ele humilhou
E com tiros de fuzil 
A vida dele acabou.

Fez mulher pari na mata 
E outras transar com ele 
Homem beber creolina 
E fazer cafuné nele 
Fez moça dançar sem roupa 
Na frente do grupo dele 
Se não dançasse morria 
Nas mãos dum cabra daquele.

Tinha um tal de Jararaca 
Do bando era o mais valente 
Matava com muita ira 
Até criança inocente 
Sacudia ela pra cima 
Com o seu ódio na mente 
E com um fino punhal 
Furava maldosamente.

Aqui na nossa cidade 
O bando tentou vencer 
Mas logo encontrou o dele 
Mossoró o fez correr 
O Colchete morto foi 
Que nunca pensou morrer 
E o Jararaca o prenderam 
Pros crimes ele responder.

O desgraçado pagou 
Pelos erros cometidos 
Mossoró o derrotou 
Depois o deixou detido 
Pra esperar o julgamento 
Mas isso não foi cumprido 
Com cinco dias depois 
Na cova ele foi vencido.

Não dar pra gente entender 
O que eu vi na cova dele 
Tantas velas derretidas 
Pois acenderam pra ele 
Tanto mal que fez no mundo 
E tem quem o põe fé nele 
Não rezem mais minha gente 
P’rum desgraçado daquele!.

O Lampião era mal 
Não dava chance a ninguém 
Se seu amigo não fosse 
Fazia-lhe de refém 
E se fosse o seu amigo 
Marcado estava também 
E pra que representá-lo? 
Se ele odiava o bem!

Até hoje eu não entendo 
Dessa comemoração 
Chamada: “chuva de balas” 
Pra lembrar o Lampião 
Ele só tinha maldades 
Dentro do seu coração 
E Ainda tem muita gente 
Fazendo-o de bonachão.

Deixem de comemorar 
O que houve em Mossoró 
Feito pelo um desgraçado 
Que de ninguém tinha dó 
Imitava os Israelitas 
Que tomaram Jericó, 
Lampião era covarde 
Jamais ele atacou só.

Cada ano que se faz 
Essa comemoração 
Pode até nascer mais outros 
Do tipo do Lampião 
Do jeito que o mundo está 
São poucos de coração 
Existem coisas melhores 
Pra mostrar a população.

Eu posso até calcular 
Desses gastos que são feitos 
Dar pra alimentar crianças 
Com certeza, seu prefeito! 
Têm tantas delas com fome 
A espera de um direito 
- Pra resolver é difícil? 
Mas se tentar vai dar jeito.

Tem pai por aí sofrendo 
Sem o pão na sua mesa 
Esperando a opulência 
E vá embora a tristeza 
Pros filhos não têm comidas 
Porque lhe falta a riqueza 
Não gasta com o Lampião 
Gasta tudo com a pobreza.

E outro vive sem teto 
Sem proteção de ninguém 
Comendo uma vez por dia 
Pois para comprar não tem 
Fiado ninguém lhe vende 
Mesmo assim não lhe convém 
- Com que ele vai pagar? 
Só se roubar de alguém!.

Quem nasceu em berço pobre 
Sabe bem o que é sofrer 
Em ver os filhos com fome 
Sem nada poder fazer 
Um diz: ― Papai quero roupa 
Outro diz: ─ Quero comer 
Deixa o Lampião pra lá 
Pois não dá pra nele crer.

Tem gente que se gloria 
Ter vencido o Lampião 
Eu até parabenizo 
Pois foi uma boa ação 
O desgraçado se foi 
Lá pra bem perto do cão 
Mas vejam que a Mossoró 
Está cheia de Lampião.

Quem admira bandido 
Tem pensamento adverso 
Carrega sempre na mente 
Coisa que é de perverso 
E jamais pensa no bem 
Só quer fazer o inverso 
Deixa o Lampião pra lá 
Agora faça o anverso.

É melhor representar 
O nosso grande Jesus 
E ensinar à juventude 
Só ele é quem nos conduz 
Lembrar do seu sofrimento 
E a sua morte na cruz 
Deixa o Lampião pra lá 
Simula o dono da luz.

Ou talvez: Santa Luzia 
Que é a nossa padroeira 
Defendeu a Mossoró 
Dessa turma bandoleira 
Mesma com os olhos furados 
Acobertou as trincheiras 
Deixa o Lampião pra lá 
Pra não se tornar besteira.

Ou Eliseu Ventania 
Homem daqui da cidade 
Que deixou grandes canções 
Foi poeta de verdade 
Fazia versos decentes 
E nenhum tinha maldade 
Deixa o Lampião pra lá 
Pensa mais na liberdade.

Por tanto senhor prefeito 
Procura dar de comer 
A essa gente sofrida 
Que não pode se manter 
Emprega o dinheiro certo 
Faça mesmo ele valer 
Deixa o Lampião pra lá 
Não dar pra nele se crer.

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